Muito respeitado na área política, o jornalista Kennedy Alencar, da Folha de S.Paulo, compara o candidato Leonardo Quintão ao ex-presidente Fernando Collor de Melo, afastado do cargo após processo de impeachment. Leonardo "lembra muito o Fernando Collor de 1989", escreveu Kennedy Alencar. E ainda: "Usa chavões com eloquência, o que é sinal de vazio de idéias. Quintão parece ter vestido um personagem para a eleição, como Collor na primeira disputa presidencial após a redemocratização".
Leia, a seguir, a íntegra da coluna.
Nova virada eleitoral pode acontecer em BH
KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online - 19/10/2008
O deputado federal Leonardo Quintão (PMDB) é um dos fenômenos destas eleições municipais. Na reta final do primeiro turno em Belo Horizonte, o peemedebista cresceu e quase encostou em Márcio Lacerda, candidato do PSB à prefeitura da capital mineira. Resultado: 43,5% dos votos válidos para Lacerda e 41,2% para Quintão.
No começo da campanha para o segundo turno, pesquisas apontaram uma vantagem de Quintão na casa dos 20 pontos percentuais. Levantamento realizado pelo Datafolha nas últimas sexta e quinta-feira constatou uma redução dessa vantagem para exatos 10 pontos percentuais -47% para Quintão contra 37% de Lacerda. Em votos válidos, excluídos brancos, nulos e indecisos, a pesquisa dá 56% ao peemedebista e 44% a Lacerda.
Na quarta-feira, houve a sabatina da Folha com os dois candidatos -este jornalista foi um dos entrevistadores. Impressão: Quintão é uma águia política. Carismático, bom de TV, inteligente. Isso tudo é verdade. Mas lembra muito o Fernando Collor de 1989. Não no sentido agressivo. Pelo contrário. É bem cordato. Mas usa chavões com eloquência, o que é sinal de vazio de idéias. Quintão parece ter vestido um personagem para a eleição, como Collor na primeira disputa presidencial após a redemocratização.
Na sabatina, Lacerda lembrou que Quintão usou dados de fichas da repressão da ditadura para chamá-lo de assaltante de bancos. O peemedebista diz que apenas reproduziu o que estava na ficha do adversário. Ora, logo alguém do PMDB, partido que fez oposição, ainda que consentida, à ditadura. Rapidamente, ele saiu da armadilha, dizendo que a ditadura era ruim e que o PMDB a combatera, mas o ataque já estava nas ruas de BH havia dias.
Lacerda caiu em contradição, como criticar as companhias peemedebistas de Quintão tão benquistas por seu maior aliado, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). O candidato do PSB também reconheceu que errou na campanha de primeiro turno, recusando-se a responder a ataques e ficando escondido na propaganda de TV. Aécio e o prefeito da capital, Fernando Pimentel (PT), fizeram uma aliança à força, desagradando partidários e aliados. Aécio e Pimentel tiraram Lacerda do bolso do colete e estão tomando um belo susto.
Mas, de novo, uma impressão: o candidato do PSB demonstrou mais consistência política e administrativa na sabatina. Ao final do encontro, gente que pensava em votar em Quintão já admitia optar por Lacerda ao obter mais informações sobre os candidatos. Havia 200 pessoas na sabatina. A percepção deste jornalista é de que ocorre uma reflexão sobre a onda Quintão. Há chance de nova virada em Minas.
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